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Repasse irregular e demanda preocupam Infantil

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Atrasos no recebimento de verbas do governo estadual e a dificuldade de responder à demanda da região tiram o sono de diretores do Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria. Eles cobraram posicionamento do governo, na manhã desta terça-feira (10), em visita de vereadores da Comissão de Saúde. A comissão já abriu diálogo com o governo, cobrando repasses, e fará nova reunião para tratar do mal-estar do Infantil. Após 15 dias sem atender pacientes agendados, as consultas e procedimentos serão retomados nesta quarta (11).

Segundo o diretor da Organização Social Hospital Nossa Senhora das Graças, que administra o Infantil, Flaviano Ventorim, as verbas costumam atrasar de dois a três meses. O repasse mensal é de R$ 5,998 milhões. O dinheiro de fevereiro e parte do correspondente a março foram depositados ontem – R$ 559 mil de março ainda não chegaram. Abril está em aberto.

Um dos médicos relatou à comissão várias mudanças no dia do pagamento, provocadas pela irregularidade dos repasses. A insatisfação entre os 719 funcionários pode levar a uma debandada de pediatras, temem os diretores.

“O governo tem que dizer qual é o tamanho do bolso dele”, falou Ventorim, sobre a necessidade de ajustar a realidade do hospital ao tamanho dos cofres do Estado, que, segundo ele, enfrenta uma crise de arrecadação.

Greves são “o pior dos mundos”, disse o diretor, mas interrupções são necessárias quando, segundo ele, a falta de dinheiro pode afetar o atendimento ao paciente. Nos últimos 15 dias, o hospital cancelou consultas e procedimentos agendados. Nesta quarta, garantiu Ventorim, o atendimento será normalizado.

Única opção

Além dos repasses irregulares, o hospital enfrenta excesso de demanda, uma vez que concentra o atendimento pediátrico de toda a região de Joinville. Segundo diretores, as cidades deixaram de investir em pediatria, o que sobrecarregou o Infantil. A chegada de famílias que deixaram de pagar plano de saúde também ajuda na sobrecarga no atendimento, a exemplo do que acontece em outros hospitais, como o São José.

“O grande ‘x’ da questão é que esse é o único grande aparelho de atendimento básico de pediatria da região”, disse Ventorim. Pelo menos 80% das consultas, segundo ele, poderiam ser atendidas fora.

Um alternativa seria rever a atual estrutura, disse ele aos vereadores, sugerindo reduzir atendimento a outras cidades, por exemplo, mas isso afetaria outros municípios e abriria as portas para inúmeros processos judiciais de pais insatisfeitos, ponderou o diretor. Diretores também se preocupam com custos extras que a expansão do hospital trará. A obra é financiada com recursos do BNDES.

Mesmo diante dos problemas, a organização não pretende deixar o comando do Infantil. Ontem, em assembleia geral, decidiu pedir ajuda ao Poder Público, tendo apoio na Câmara.

No último dia 2, o presidente da comissão, vereador João Carlos Gonçalves (PMDB) entregou ao governador Raimundo Colombo documento no qual entidades de Joinville pediam a regularização dos repasses. Ele também apresentou moção neste sentido. “Não podemos deixar o Hospital Infantil nessa situação”, disse Gonçalves.

O vereador Maurício Peixer (PR) disse que, se fosse administrado diretamente pelo governo, “pelo menos a folha de pagamento estaria garantida”. A folha de pagamento soma R$ 2,1 milhões por mês.

Ele disse acreditar, no entanto, que a gestão hospitalar por organização social é o modelo mais acertado. “Está nas nossas mãos fiscalizar e pressionar (o governo)”, explicou Peixer. O vereador acha possível criar “algum dispositivo de obrigatoriedade” dos pagamentos. Membro da comissão, o vereador Adilson Mariano (PSOL) criticou o modelo de “terceirização” adotado pelo governo, mas disse que é hora de priorizar a solução dos problemas sem penalizar o cidadão.

“A comunidade não pode pagar pela irresponsabilidade do governo, que faz um acordo e não consegue pagar”, falou Mariano.

A Comissão de Saúde volta a debater os problemas do Infantil em reunião extraordinária nesta quarta-feira (11), às 15h, na Câmara, e pode promover audiência pública também com a participação de cidades da região para buscar soluções.

Texto: Jornalismo CVJ, Carlos Henrique Braga / Foto: Nilson Bastian

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