Munícipes e vereadores reclamaram da demora na realização de cirurgias eletivas no SUS, nesta segunda-feira (16), em audiência pública da Comissão de Saúde. A macrorregião Norte/Nordeste tem cerca de 20 mil pessoas à espera por procedimentos, sendo 7.079 só em Joinville. Segundo representantes dos governos estadual e municipal, depois de aumentarem na pandemia, devido à paralisação das cirurgias eletivas, as filas estão diminuindo lentamente.
A reunião foi um pedido do vereador Pastor Ascendino Batista (PSD). “Esta audiência foi solicitada pelo clamor e desespero de pessoas que dependem urgentemente de uma cirurgia para continuar vivas. Famílias estão convivendo com a dor e sofrimento, aguardando por meses ou anos”, afirmou Batista. “Sabemos que a pandemia parou as cirurgias e foi responsável pelo caos, mas ela já passou, não pode ser mais uma desculpa”.
Em julho, porém, Roselene terá de fazer outro procedimento para tratar a doença, que se agravou com a demora. “Eu continuo correndo risco de vida, sem poder sair de casa sozinha, e o mais triste é pensar que eu não precisaria estar passando por isso, tem pessoas que estão brincando com a saúde da gente”, disse Roselene ao público da audiência.
O que disseram os governos
A regulação dos leitos para cirurgias eletivas é feita pelo Governo do Estado. Segundo o gerente regional de Saúde em Joinville, Thiago Patrício Furtado, o governo estadual trabalha por meio de convênios e pactuação com hospitais para aumentar a oferta de cirurgias eletivas na macrorregião Norte/Nordeste, que abrange Joinville.
Conforme o gerente, 200 pessoas deixaram a fila de cirurgias nos últimos meses, que agora é de 20.052 pacientes, sendo 7.079 joinvilenses. Ele ressaltou que é preciso “limpar” as filas com a retirada de pessoas que já foram operadas, morreram ou desistiram, para que elas não tirem vagas de quem ainda espera.
O diretor executivo da Secretaria de Saúde de Joinville, Andrei Kolaceke, ressaltou que os municípios são prestadores de serviço e que o papel deles é oferecer cirurgias ao sistema estadual. Sabendo a demanda acumulada, o município dobrou o investimento em compra da iniciativa privada, para R$ 41 milhões, dos quais R$ 15 milhões já foram gastos. O número de cirurgias eletivas cresceu de 872, entre janeiro e março do ano passado, para 1.744, no mesmo período deste ano.
“O resultado ainda não é sentido por quem aguarda na fila de espera porque temos demanda reprimida por muitos anos, agora é um processo contínuo de reduzir gradativamente as filas de espera”, explicou Kolaceke. Ainda segundo ele, 81 novos médicos concursados já foram convocados para a atenção primária, e outros 38 serão chamados nos próximos dias.
Demanda de vizinhos
O diretor da Secretaria de Saúde de Joinville, Andrei Kolaceke, ressaltou que é preciso discutir a pactuação com os municípios vizinhos. Eles respondem por entre 20% e 30% dos pacientes atendidos no Hospital Municipal São José. “Muitas vezes atendemos demandas que poderiam ser atendidas por outros municípios. Alguns têm possibilidade, como Jaraguá do Sul e Mafra”, disse Kolaceke. “A gente vai trabalhar fortemente nessa questão de repactuar essas referências entre os municípios”.
Também por sugestão do vereador Pastor Ascendino Batista, uma reunião será solicitada ao governador Carlos Moisés (Republicanos), para discussão de aumento no repasse de verbas para o Hospital São José, gerido pelo município de Joinville.
A Comissão de Saúde vai acompanhar os dados das cirurgias eletivas e marcou nova reunião sobre o tema para 20 de junho.
O que disseram os vereadores
Para Neto Petters (Novo), o “papel dos vereadores é fiscalizar, e estamos cumprindo nosso papel, já que no ano passado os 19 estiveram em Florianópolis, na Secretaria de Saúde”. Ele lembrou que os parlamentares foram à capital com seus veículos próprios, sem gasto de dinheiro público.
Cassiano Ucker (União Brasil), que é médico, lembrou que a saúde é tripartite (sob comando de União, estados e municípios), mas que, para a população, “o importante é ser atendida”. Ele também observou que o atendimento deve respeitar as prioridades, de acordo com urgência dos casos, e que isso precisa ser mais transparente.
Brandel Júnior (Podemos) disse que os vereadores estão fiscalizando, dentro dos hospitais e PAs, escutando pessoas ligarem para os para os gabinetes, dizendo que foram diagnosticadas com câncer, e a cirurgia é para daqui a 4 anos, por exemplo. “Se você não estiver preparado [para o câncer], você começa uma decadência, há ainda pessoas que estão há quatro anos na fila de cirurgia de quadril, por exemplo”, lamentou o vereador.
Henrique Deckmann (MDB) afirmou que é preciso investir pesado na atenção primária e secundária. “Não dá para se investir o que é investido no São José e 80% [dos pacientes] não deveriam estar lá, só chegaram porque há falhas na atenção primária e secundária”, disse.
Lucas Souza (PDT) disse que é necessário estadualizar a folha de pagamento do São José, como a gestão passada do governo estadual fez com um hospital em Criciúma. É preciso cobrar do governador e dos deputados estaduais para que se faça o mesmo em Joinville, único município que destina 40% do orçamento para saúde.
Wilian Tonezi (Patriota), que presidiu a audiência pública, afirmou que a saúde de Joinville passa por problemas e que recebe reclamações de usuários que são transferidos para outras cidades onde há vagas para internação. Ainda segundo ele, as clínicas não estão renovando seus convênios porque o repasse do SUS não cobre os custos. A fila da ultrassonografia, por exemplo, passou de 7,2 mil pessoas para 8,5 mil.
O deputado federal Coronel Armando (PL) esteve na audiência. Ele disse ter destinado R$ 15 milhões em emendas à saúde de Joinville. O deputado queixou-se que, do total, R$ 3 milhões foram enviados para construção da sede do Núcleo de Assistência Integral ao Paciente Especial (Naipe), que ainda não saiu do papel.