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Memória CVJ: O rapto da menina Marisa Ganzemuller

Em 5 de agosto de 1957, a babá Maria Emilia de Quadros e a criança Marisa desapareceram sem deixar rastros. Começou uma busca policial pela criança na região

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Mario segura sua resgatada filha. O Segundo da esquerda para a direita é Bernardo Halfeld, o jornalista que a encontrou. (foto: Jornal de Joinville, 27/08/1957)

por Patrik Roger Pinheiro
Historiador (registro 181/SC), servidor da Câmara, mantenedor do projeto Memória CVJ.

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Em 1957, Joinville vivenciou uma história tensa, digna de uma produção cinematográfica. Trata-se do sumiço de Marisa Ganzemuller, um acontecimento que não só capturou a atenção da cidade durante muitos dias, mas também repercutiu no estado e no país.

Tudo começou com Maria de Quadros, uma moça que esteve internada num reformatório no Paraná, por ter cometido infrações. Mas não era ali que Maria queria passar muitos dos seus dias, e ela conseguiu escapar, fugindo para Santa Catarina.

Em Joinville, Maria era bem conhecida por Mario Ganzemuller, tanto é que quando este precisava ir a Morretes, era na casa da família de Maria que ele pousava. Por isso, foi na porta de Mario que a moça bateu, dizendo que estava passando por dificuldades e pedindo emprego. Ora, oportunamente, Melicia Ganzemuller, a esposa de Mario, estava mesmo precisando de uma babá, então parece que os assuntos convergiram muito bem. Melicia ainda não sabia, mas seu pior pesadelo estava para começar.

No dia 5 de agosto de 1957, a babá Maria Emilia de Quadros e a criança Marisa desapareceram sem deixar rastros. Começou uma busca policial pela criança na cidade, no estado e na região sul.

A menina Marisa Ganzemuller

Desejando voltar a Curitiba, a raptora aceitou carona de alguém que disse estar indo para lá, e como não queria perder o transporte, e tendo a impressão de que o motorista não a esperaria por muito tempo, Maria entendeu que não daria tempo de levar a menina para casa e simplesmente decidiu que levaria a criança consigo. Do dia 5 ao dia 8, ela acompanhou o motorista, que primeiro precisou cuidar de assuntos em Blumenau, e somente no dia 8 eles chegaram em Curitiba.

Nesse ínterim, a mãe, Melicia Ganzemuller, teve uma crise nervosa e recusava alimentos, sendo por isso recolhida ao Hospital Dona Helena. O pai estava aparentemente mais conformado, dizendo que confiava em Deus para o desfecho do caso.

Na capital paranaense, a babá Maria de Quadros adotou o falso nome de Maria Teresa de Souza e deu entrada num Albergue no dia 9, renomeou a criança como Maria Elena e disse que a pequena teria nascido em Morretes. A raptora disse que o pai se chamava Nilton Zacarias de Souza. Curiosamente, Maria largou a criança ali, sob o pretexto de que fora abandonada pelo marido e não podia trabalhar e cuidar da criança ao mesmo tempo.

Print do Jornal Correio da Manhã, de 1957

A encarregada do albergue desconfiou daquela situação e, mais do que isso, conhecia a história do sequestro em Joinville. Ela então ordenou ao guarda que detivesse Maria de Quadros e foi consultar a delegacia de menores. Os dias de terror de Melicia e Mario Ganzemuller poderiam estar perto do fim.

Mas não foi o caso. A encarregada do albergue fora informada de que um menino é que fora raptado em Joinville. O grave erro de informação a fez regressar ao albergue e liberar Maria. A criança, então, foi enviada para uma instituição apropriada.

Ainda vivendo seu pesadelo materno, Melicia começou a se acalmar um pouco, recebendo alta no dia 14, depois de prometer voltar a comer. Em 15 de agosto, chegou à delegacia uma informação de que raptora e raptada foram vistas na fronteira entre o Paraná e São Paulo, mas a informação não procedia.

Câmara de Vereadores e comunidade se engajam

Foi naqueles dias que veio de Canoinhas um homem cujo nome os jornais da época não informaram. Em Joinville, ele propôs ao delegado e à família a criação de um prêmio para quem pudesse dar informações sobre o paradeiro da criança. Parece que a Câmara de Vereadores achou interessante a ideia, já que na sessão em que o caso do rapto foi comentado, o vereador Eugênio Gilgen apresentou à mesa um projeto que buscava instituir um prêmio de 20 mil cruzeiros a quem pudesse dar informação correta sobre o paradeiro da raptora. O valor seria coberto pelas contas municipais. Jota Gonçalves, elogiando a indicação, sugeriu aumentar a quantia para 30 mil cruzeiros, o que foi aprovado pelos pares.

Seguiu o exemplo da câmara, o sr. Curt Alvino Monich, que enviou de seus fundos pessoais mais 10 mil cruzeiros para a campanha, iniciando uma arrecadação entre particulares, que contou com a participação de muitas pessoas. O valor final recolhido entre os particulares dobrou o valor oferecido inicialmente por Curt. Portanto, o total oferecido era de cinquenta mil cruzeiros, sendo trinta mil do município, dez mil de Curt e dez mil numa soma de várias contribuições.

Mario segura sua resgatada filha. O Segundo da esquerda para a direita é Bernardo Halfeld, o jornalista que a encontrou. (foto: Jornal de Joinville, 27/08/1957)

Fim do Pesadelo

No dia 24 de agosto a agonia da família Ganzemuller chegou ao fim, pois a criança foi encontrada em Curitiba. Mas como? Bem, um repórter do “O Estado do Paraná”, Bernardo Halfeld, soube que havia uma criança abandonada num albergue da cidade. Avisado por autoridades locaos que a menina Marisa tinha uma cicatriz de queimadura no braço esquerdo, Halfeld foi averiguar a criança albergada e ela tinha cicatriz, mas no braço direito. Haveria a informação incorreta de atrapalhar tudo de novo?

Não dessa vez. Bernardo percebeu que não podia desistir de sua investigação só por causa dessa diferença. Decidido a deixar tudo muito claro, o repórter ligou diretamente para a delegacia de Joinville, que afirmou que a queimadura ocorreu no braço direito, e não no esquerdo, como disseram antes a Halfeld. Diante dessa confirmação, Halfeld não tinha mais dúvidas de que estava perante Marisa Ganzemuller.

Sem nenhuma demora, no mesmo dia, o aliviado pai foi buscar Marisa na capital paranaense. Ao ser colocada a criança no colo da sofrida mãe, as emoções chegaram ao clímax, com choro intenso misturado às ruidosas manifestações de júbilo. Um desfecho feliz para um evento dramático ocorrido na Joinville de 1957.

Halfeld e seus colegas de profissão que estavam envolvidos na busca por Marisa abriram mão do prêmio oferecido a quem tinha informações sobre ela. Eles ofereceram o pecúlio à pequena criança. Como o total depositado foi de vinte mil cruzeiros em vez de cinquenta, pode-se supor que o valor oferecido pela municipalidade, através da Câmara, precisou permanecer nos cofres públicos. Maria Emilia de Quadros, a raptora, foi depois encontrada e encaminhada à polícia de Joinville.

Referências 

DESFECHO Feliz do Rapto da Menina Marisa. Jornal de Joinville, 27 de agosto de 1957.

DETIDA em Curitiba, Afinal, A raptora da Menina Marisa. Joinville, Jornal de Joinville, 28 de agosto de 1957.

IGNORADO Ainda o Destino de Maria Emilia Quadros. Joinville, Jornal de Joinville, 15 de agosto de 1957.

MENINA de 8 Meses Raptada pela Babá. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, edição 19761, 27 de agosto de 1957. 

PECÚLIO para a Pequena Marisa. Joinville, A Notícia, 17 de setembro de 1957.

PERMANECE o Misterio em Torno do Rapto de Marisa. Joinville, Jornal de Joinville, 13 de agosto de 1957.

ULTIMA Hora – Encontrada a Menina Marisa. Joinville, Jornal de Joinville, 25 de agosto de 1957.

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