Associações de moradores da região do Paranaguamirim se posicionaram contrárias à proposta de divisão do bairro na audiência pública realizada ontem à noite na Escola Municipal Prefeito Joaquim Félix Moreira por entenderem que a divisão enfraquece politicamente a região. Para comerciantes, a divisão representaria fortalecimento das reivindicações específicas da região. Aproximadamente 100 pessoas se reuniram na escola para conhecer e expressar suas opiniões sobre a proposta.
O Projeto de Lei Complementar 12/2014, de autoria do vereador Claudio Aragão (PMDB), cria, oficialmente, o bairro Kurt Meinert, que corresponde, em termos territoriais, a 64% do atual bairro Paranaguamirim. A justificativa do parlamentar é a existência de uma identidade própria dos loteamentos localizados no bairro que poderia conduzir a um fortalecimento das reivindicações políticas daquelas comunidades. Durante a audiência, Aragão disse que sua assessoria coletou mais de 1.200 assinaturas favoráveis no bairro. Para Aragão, parte das pessoas que se manifestaram contrárias à divisão na audiência não eram moradores da região ou seriam vinculadas a interesses políticos diferentes.
Alguns moradores queriam saber se com a divisão viriam mais recursos para a região. O vereador Lioilson Corrêa (PT) disse que “a decisão do orçamento não tem relação com o número de bairros. É uma decisão do prefeito”. Representante da Associação de Moradores do Loteamento Ana Júlia, Deogemir Sartori disse que chegou na reunião com uma ideia, mas que passou a se perguntar “se não vem recurso, para que mudar o bairro?”
O morador Vladimir Cândido defendeu que “antes de querer dividir bairro, é melhor lutar por mais infraestrutura, mais escolas, mais postos de saúde”. Apenas 11% das ruas de todo o Paranaguamirim são pavimentadas, conforme dados do Ippuj. Há também 3 postos de saúde e 5 escolas, 6 CEIs e 5 praças, partilhadas pelos quase 30 mil moradores. Para Cândido, a divisão só enfraqueceria a região. Ele lembrou que os loteadores precisam fornecer infraestrutura completa (luz, água). Representantes de duas imobiliárias estiveram na reunião para apresentar o plano de criação de condomínios industriais que se localizariam na região aos fundos do bairro.
O dono de mercado Fernando Vieira se mostrou favorável à proposta. No entendimento dele, com uma identidade definida e própria da região, seria mais fácil lutar politicamente por mais recursos.
No entendimento do diretor-executivo da Fundação Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Fundação Ippuj), Gilberto Lessa, “a criação do novo bairro não muda muita coisa em termos urbanísticos, mas que, politicamente, a comunidade pode ganhar força a partir da identificação com a região”. Lessa explicou que a área foi sugerida pelo Ippuj a Aragão porque a área foi definida conforme o setor censitário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na região.
No bairro Paranaguamirim vivem, conforme o Joinville Bairro a Bairro de 2015, 29.844 pessoas. Conforme a proposta de divisão, seriam 9.265 na área reminiscente do Paranaguamirim, e 20.579 no Kurt Meinert, área em que estão situados os loteamentos Jardim Edilene, Estêvão de Matos, Canaã e Itaipu, anexados ao município de Joinville em 2000.
Confira como ficaria a divisão do bairro, conforme a divisão proposta pelo Ippuj.
Nomes
Além do nome Kurt Meinert, sugerido por conta da principal via a cortar a área, também foi sugerido o nome de Luiz Henrique da Silveira para o novo bairro. A sugestão foi do presidente da Comissão de Legislação, o vereador Maurício Peixer (PSDB), que deve apresentar uma emenda ao projeto, com a mudança do nome. O parlamentar alegou que Luiz Henrique “foi decisivo” para a anexação da área ao município de Joinville. O morador e ex-presidente da associação de moradores do Jardim Edilene Armelindo Andretti disse que não via razão para a divisão, mas que até a aceitaria se o nome do bairro fosse Jardim Edilene.
Mas, afinal, quem foi Kurt Meinert?
Kurt Meinert foi presidente do América Futebol Clube quando a equipe foi campeã catarinense em 1971, último título estadual da equipe antes de se retirar do futebol profissional. O nome do cartola foi dado à via que leva até a comunidade do Morro do Amaral em 1976. Até então, o caminho era conhecido como Estrada do Amaral. Conforme José Declarindo dos Santos, morador do Paranaguamirim há 11 anos, Meinert “não tinha nada a ver com o Panagua”.