Texto de Patrik Roger Pinheiro,
historiador e coordenador do Memória CVJ.

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Ocorreu neste 29 de outubro de 2025 a transmissão temporária do cargo de presidente da Câmara de Joinville. O vereador Diego Machado sairá para assumir interinamente a prefeitura, deixando o cargo para a vice-presidente da casa, a vereadora Tânia Larson. A última vez em que uma mulher assumiu esse posto foi há quase 34 anos, feito alcançado por Teresa Campregher Moreira.

Teresa foi educadora de profissão. Perseguindo essa paixão, ela atuou em Joinville como professora e diretora de escola. Após deixar o cargo de vereadora, integrou a Secretaria de Educação do município por alguns anos.

Teresa na CVJ

Nas eleições de 1988, Teresa se elegeu vereadora pelo PMDB, alcançando 1.803 votos. Como seu partido fizera maioria no legislativo, sua chapa para a mesa diretora do biênio 1989-1990 foi a vencedora, alçando Teresa ao cargo de 1ª secretária. Ela foi a segunda mulher a integrar a mesa na história da CVJ, sendo precedida nessa função por Mathilde Amin Ghanem, em 1955. Em 1990, Teresa esteve entre os signatários da Lei Orgânica de Joinville, a primeira confeccionada após a redemocratização.

Inimiga da fumaça do tabaco, Teresa comparecia às sessões ordinárias quando fumar em locais fechados ainda era comum. Um belo dia de agosto de 1990, ela apôs no plenário um cartaz que evocava a lei municipal lei 1.659 de 1979, que proibia acender cigarros em supermercados e panificadoras. O fumacê não devia ser pouco, já que meses antes o vereador Silvio Antonio Fortunato chegou a deixar o plenário alegando não conseguir respirar direito.

Em fevereiro de 1989, Teresa cedeu entrevista ao Jornal A Notícia. Na foto do jornal, ela aparecia na cozinha, com pano de louça na mão. Como mulher parlamentar, Teresa alegou não apoiar os movimentos feministas da época, entendendo que estes não ajudavam a harmonizar e equilibrar os relacionamentos entre homem e mulher. Ela via, no entanto, a necessidade de mais mulheres ocuparem cargos políticos e creditava esse déficit à falta de interesse das próprias mulheres.

Teresa é fotografada na cozinha pelo jornal A Notícia/Arquivo Memória CVJ

Foi em 1991 que Teresa marcou a história do legislativo joinvilense ao se tornar a primeira mulher a ser eleita vice-presidente da CVJ. E mais, ela também assumiu a presidência da casa, mesmo que interinamente. No fim de novembro daquele ano, o prefeito Luiz Gomes deixou o cargo temporariamente para seu vice, que uma semana depois o transferiu ao presidente da Câmara, Durival Lopes Pereira. Como Durival não podia acumular a chefia do executivo e do legislativo, a presidência da Câmara ficaria interinamente com Teresa. Agora, em 2025, Tania Larson está repetindo esse feito.

Um encontro de família inusitado

Em setembro de 1992, houve uma prolongada greve dos servidores municipais que desafiou o prefeito e dividiu os vereadores. Naqueles dias, Teresa acabou vivendo um encontro de família um tanto inusitado: Os servidores, incluindo muitos professores, estavam mantendo piquetes na frente da prefeitura em desafio a ordens judiciais, e junto deles, estavam Altino e Liamares, que eram marido e filha de Teresa. Eles eram servidores públicos. Teresa também estava lá, qual representante do poder legislativo e professora por profissão, tentando interceder pelos servidores.

Naquela época, a prefeitura ficava no cruzamento das ruas Max Colin com João Colin. Então, para manter a ordem, eis que apareceu o pelotão de choque da Polícia Militar comandado justamente pelo filho de Teresa, o tenente Adilson. Ele tinha ordens de remover os piquetes e primeiro conseguiu liberar a rua João Colin, mas a Max continuou interditada pelos servidores.

Enquanto o marido Altino permanecia nas margens da via, a filha Liamares estava entre os bloqueavam a rua. Flutuando entre os grevistas e a prefeitura, Teresa pedia ao filho comandante que mantivesse a calma, mas Adilson permanecia calado, aguardando mais ordens.

As ordens vieram: a rua Max Colin também precisava ser liberada e os grevistas que resistissem deviam ser preso, sendo colocados em ônibus solicitados pela PM. Não foi uma ordem fácil de ser cumprida. Sendo a mãe da área da educação, Adilson conhecia muitos professores. Um comandado seu chegou a ficar tão sensibilizado com os clamores e lamentos dos professores que precisou ser substituído.

Tentando resistir, os professores chegaram a deitar-se na rua, mas a ordem foi executada. Teresa pedia calma ao filho, alegando que uma negociação estava em curso e pedindo para não fazer aquilo: “Adilson, não faz isso. Não é assim que se faz. Não é possível.” Liamares estava entre os grevistas removidos para o ônibus, Adilson estava no comando da ação… e o marido Altino? Continuava sossegado nas margens da via, no modo “Falo nada, só olho!

Só escapou do encontro familiar outro filho de Teresa, que nada tendo com este assunto, decidiu não comparecer onde não lhe dizia respeito. Foi um curioso encontro, no qual os familiares estavam em lados diferentes. Disse Adilson Moreira que os grevistas foram removidos com a maior gentileza possível, não havendo episódios de violência física.

 

Lula explica à Teresa, na Câmara, porque não pode dar o aumento desejado pelos servidores. (Foto: Ebnder Gonçalves/A Notícia 06/10/1992)

Homenagens

Teresa nos deixou em 2016, não sem antes receber da Câmara, no mesmo ano, a Medalha de Mérito Mulher Cidadã Joinvilense Justina Rosa Fachini. Em sua homenagem, um CEI no bairro jardim Iririú leva o nome de “Centro de Educação Infantil Professora Teresa Campregher Moreira”.

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