O medo de assalto muda aos poucos a rotina e a altura dos muros das casas do Floresta, o antes tranquilo bairro da Zona Sul de Joinville. Patrícia Melo agora leva os filhos à escola a pé porque tem medo de ter o carro roubado na porta do colégio- três pessoas foram assaltadas no local nos últimos tempos.

Karina Rizzo Coral e o marido evitam sair com a filha à noite. A família mora perto da policlínica, na Rua República da China. Há duas semanas, Karina viu uma pessoa ser assaltada na sua esquina, na hora do almoço, com o que parecia ser uma arma de brinquedo. A casa ganhou mais alarmes e passará a ser vigiada por câmeras.

Ela aderiu à Rede de Vizinhos, grupo de Whatsapp administrado por um policial militar. Antes de entrar no grupo, a PM pesquisa a ficha criminal do interessado.”Sentimos uma insegurança enorme nessa rua”, diz Karina.

Histórias como essas foram repetidas por mais de duas horas na audiência pública da Comissão de Proteção Civil e Antidrogas, ontem (10), na Sociedade Floresta, para oito vereadores e representantes das polícias Militar e Civil e da Guarda Municipal.

O medo só cresce, disseram moradores, mesmo diante dos números da Polícia Militar para a região assistida pelo 17º Batalhão, que registra, neste ano, queda de 20% nos casos de roubos e furtos, na comparação com o ano passado, segundo o capitão da PM para o Floresta, Gabriel Corrêa.

Em 2017, foram registrados 515 crimes contra o patrimônio na Zona Sul de Joinville (220 envolveram assaltos a pessoas). São cerca de cem a menos que em 2016, calcula o capitão. Para ele, a queda se deve à chegada de 25 novos policiais, em março.

Cerca de 600 pessoas foram presas na região Sul de Joinville, também neste ano (482 em flagrante). Há mil mandados de prisão expedidos, segundo a delegada regional Tania Harada.

Embora a região do 17º BPM tenha registrado diminuição nos casos de furtos e roubos, se os números forem ampliados para toda a cidade, Joinville registrou 46% mais furtos até junho deste ano, na comparação com o mesmo período de 2016 (de 3577 para 5230). Roubos de veículos caíram de 811 para 740. As informações são da Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Rondas e carros parados

A população cobrou mais rondas da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Na policlínica do bairro, Eraldo José Hostin Junior, do Conselho de Saúde do bairro, contou quatro assaltos e três tentativas.

“A nossa população está se sentindo insegura devido a um contingente muito pequeno que não vem sendo renovado pela Polícia Militar”, disse Hostin Junior.

O aumento de denúncias pelo 190 aumentou, gerando mais necessidade de rondas repressivas, segundo a PM, mas elas esbarram no baixo número de policiais e na falta de veículos – 42 estão na oficina, dentre eles as 20 motos da corporação. Desde 2013 não chegam novos carros e o mais inteiro está com 100 mil km rodados.

Pelo menos mil novos policiais serão formados em breve, mas não se sabe quantos serão lotados em Joinville. A decisão de onde colocar os policiais é “técnica e política”, segundo a PM. Há ainda outros 90 em treinamento na cidade, ainda sem destino definido.

“A busca de efetivo deve partir não só da PM, mas de todas as autoridades constituídas “, falou o capitão Gabriel Corrêa.

Sobre as câmeras de vigilância, pedido que vem se repetindo em reuniões sobre segurança, o capitão da PM disse que há 240 em operação e citou fonte “extraoficial” para informar que outras 50 podem ser instaladas na cidade.

Ele recomendou que moradores criem grupos de vizinhos para monitorar as ruas, até mesmo instalando câmeras e compartilhando as imagens entre eles pelo celular.

Audiências de custódia

Criminosos têm voltado mais rápido a cometer crimes depois da criação das audiências de custódia, em 2015, acredita o capitão da PM, e isso aumentou a sensação de insegurança da população, que repete “a polícia prende e a justiça solta”. Antes, presos em flagrante passavam até três meses detidos, numa medida considerada “educativa” por Corrêa. Agora, nessas audiências, eles podem ser liberados mais rápido.

“Hoje o indivíduo sente que não foi punido e volta a cometer o crime”, analisou o policial. “A culpa não é do judiciário, é da legislação, que autoriza isso”.

Ausência do Estado

O secretário de Estado de Segurança Pública César Augusto Grubba não foi, nem mandou representante. Sua ausência recebeu críticas da plateia e do presidente da comissão, Richard Harrison (PMDB), que não descarta voltar a Florianópolis para continuar fazendo pressão para que o Estado seja mais generoso com a segurança pública de Joinville.

“O governo do Estado tem sido extremamente ineficiente, principalmente essa última gestão do governo. Não tem desenvolvido nada, tem fugido dos embates na Câmara, manda seus representantes, mas quem tem o poder de definir as ações não aparece nas reuniões”, disse o vereador ao Jornalismo CVJ.

As audiências públicas como a do Floresta serão feitas em toda a cidade, disse Harrison. A primeira foi no Comasa, em maio. Ele acredita que é possível frear a violência em Joinville com educação, prevenção, tecnologia, além de revisão das leis e mais efetividade nas ações do governo do Estado.

“Joinville fechou 64 salas de aula, enquanto o sistema prisional cresceu 1444%. Nós precisamos de políticas públicas nas áreas de cultura e educação para que os jovens não sejam ‘pinçados’ [pelo crime]”, defende Harrison.

Estiveram na audiência também os vereadores James Schroeder (PDT), Maurício Peixer (PR), Pelé (PR), Fernando Krelling (PMDB), Rodrigo Fachini (PMDB), Natanael Jordão (PSDB) e Odir Nunes (PSDB).

Texto: Jornalismo CVJ, por Carlos Henrique Braga/ Foto de Nilson Bastian.

Deixe um comentário