A redução na quantidade de materiais recicláveis que está chegando às cooperativas de Joinville está preocupando cooperados e organizações sociais envolvidas na causa. Para discutir o tema, os vereadores da Comissão de Economia fizeram ontem, no plenário da Câmara, uma audiência pública, da qual participaram cerca de cem pessoas ligadas ao assunto.

Representante da Associação Ecológica dos Catadores e Recicladores de Joinville (Assecrejo), Severino Tavares Nunes disse que em 2015 as cooperativas reciclavam, em média, 90 toneladas por mês. Naquele período, os rejeitos correspondiam a cerca de 15% do total.

Em 2017, no entanto, o volume reciclado caiu para 48 toneladas por mês. E o índice de materiais considerados impróprios aumentou para 30% do total. “Hoje os caminhões chegam com 300 kg a 400kg de material. Houve tempos em que as cargas tinham de 1200 kg a 1600 kg”, disse Nunes.

A recicladora Cristina Bastista, que trabalha em uma cooperativa de 20 recicladores na rua Dorotóvio Nascimento, no bairro Cubatão, comentou que está havendo semanas em que as quintas e sextas-feiras são paradas, pois não há mais materiais a processar.

A Prefeitura de Joinville estima que aproximadamente apenas 7% do lixo produzido na cidade são reciclados.

O vereador Odir Nunes (PSDB) foi o proponente da audiência pública. Ele diz ter visitado todas as cooperativas da cidade para conhecer o problema de perto. Nas conversas com os recicladores, o vereador diz ter ouvido relatos de que o grupo de gestão compartilhada criado pela Prefeitura para fomentar as atividades de reciclagem no município não aparece nos galpões e cooperativas há cerca de oito meses.

O secretário de Infraestrutura Urbana, Romulado França, contestou a crítica do vereador Odir Nunes, e disse que “o grupo tem feito tudo o que está a seu alcance para fomentar a atividade da reciclagem em Joinville”. França reconheceu, entrentanto, que “a equipe é pequena para o tamanho do problema”.

Lisielen Miranda Goulart é gerente de fomento e geração de renda na secretaria municipal de Assistência Social. Ela informou na audiência que a Prefeitura estuda lançar uma campanha de conscientização sobre a necessidade de separação do material reciclável do lixo orgânico.

Regularização de documentos é outra demanda

Audiência Pública

Além da falta de materiais, as cooperativas têm esbarrado em problemas na documentação. Até a atual Lei de Ordenamento Territorial entrar em vigor, em janeiro, os galpões de reciclagem não podiam receber os alvarás de localização e nem as licenças ambientais. Mas isso, em tese, foi sanado, já que a nova lei estabeleceu as zonas necessárias para a atividade.

“Faz mais de oito meses que a LOT entrou em vigor. E me digam quando, nesse período, alguém desse grupo de gestão compartilhada ou alguém a mais da Prefeitura procurou vocês (recicladores) para colocar a documentação de vocês em dia”, provocou o vereador Odir Nunes, ao manifestar-se da tribuna. A resposta foi um sonoro “Nunca!” entre os recicladores.

Daniel Tomazoni é consultor Unisol Brasil — Central das Cooperativas e Empreendimentos Solidários. Ele disse que a regularização dos galpões e cooperativas pode ajudar a aumentar a renda dos cooperadores. É que muitas empresas, cuja matéria-prima para produção de seus produtos pode vir de materias reciclados, só compram de galpões ou cooperativas legalmente constituídas. “Catadores têm se desenvolvido e se organizado em redes e cadeias produtivas para vender diretamente para as indústrias. Eles estão adquirindo tecnologia e conhecimento técnico. As cooperativas têm, sim, meios de obter investimentos, mas a falta alvará de funcionamento e licenciamento ambiental impede a captação de recursos. É algo que nós podemos trabalhar em conjunto e ajudar a corrigir”, declarou Tomazoni.

A presidente da ONG Impacto Social, Sandra Regina Sievert, disse que a coleta seletiva não é apenas questão ambiental; ela é também social e econômica. Mais de 150 famílias, segundo afirmou, dependem diretamente dos materiais reciclados recolhidos pela Ambiental e repassados às cooperativas.

Sievert disse que não há problema algum nesse repasse feito pelo concessionária, que o procedimento é transparente e consensual entre as cooperativas. O que tem causado problema são os caminhões considerados clandestinos, que têm coletado os materiais antes da Ambiental.

A baixa de material está afetando a renda dos recicladores. A recicladora Márcia Aparecida Souza dos Santos disse que havia semanas, há cerca de dois anos, em que cada reciclador voltava para casa com quase R$ 80 reais no bolso. Hoje, esse valor está na faixa de R$30 a R$40.

O vereador Odir Nunes propôs que a Prefeitura envie para a Câmara um projeto de lei para regulamentação da atividade. Ele disse que as regras para expedição dos alvarás precisam ser claras e facilitadas.

Foi consenso entre os demais vereadores que participaram da audiência pública também, que é preciso colocar nas ruas uma forte campanha de conscientização da população. Os moradores precisam saber o dia e horário da coleta seletiva e precisam ser instigados a separar mais o lixo que produzem. Participaram os vereadores Ana Rita (PROS), Maurício Peixer (PR), Rodrigo Coelho (PSB), Rodrigo Fachini (PMDB), Richard Harrison (PMDB), Israel Petróleo (PRB), Mauricinho Soares (PMDB), James Schroeder (PDT) e Adilson Girardi (SD).

Texto: Felipe Faria. Foto: Sabrina Seibel.

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