A mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) dentro de 30 dias do ocorrido teve queda de 58% em Joinville desde 1997, quando surgiu o programa Joinvasc, voltado ao tratamento da doença. O dado foi apresentado na Tribuna Livre desta quarta-feira (24) pela neurologista Carla Cabral Moro, que também apresentou aos parlamentares as dificuldades enfrentadas pelo programa atualmente.
As bases do programa, explicou a neurologista, estavam em uma pesquisa iniciada em 2015, que coletou dados sobre a incidência de AVC na cidade. As informações reunidas desde então formam o primeiro pilar do programa, que também tem como base a existência de uma unidade de saúde específica para o tratamento da doença, com base em um atendimento multidisciplinar e, por fim, o acompanhamento do paciente depois da alta com contatos frequentes.
A unidade de referência está no Hospital Municipal São José, que atende, conforme o protocolo adotado no município, todos os pacientes com suspeita de AVC.
Por outro lado, apesar do sucesso do programa, algumas dificuldades se colocaram nos últimos dois anos. “Desde o início da pandemia estamos com cinco leitos a menos, e os pacientes ficam no pronto-socorro”, comentou a médica.
Além da perda para os pacientes, a falta de leitos também redunda em perda financeira para o município, uma vez que as despesas com pacientes de AVC em pronto-socorro são maiores para o poder público do que as despesas que seriam necessárias para manter os mesmos pacientes em unidades próprias para o tratamento da doença, conforme alguns dos estudos elaborados pelo programa.
Outras dificuldades estão relacionadas à obtenção de medicamentos essenciais e aos procedimentos endovasculares. “Os pacientes têm ficado bastante tempo internados aguardando esses procedimentos”, contou Carla. Também tem rendido dificuldades para o programa as dificuldades com o tratamento por meio de hemodinâmica.
Segundo o neurologista, o procedimento de hemodinâmica está com processo licitatório parado há quatro anos. “A verba da emenda parlamentar já veio desde dezembro de 2020, e nós não conseguimos evoluir”, afirmou.
A centralização do atendimento no HMSJ levou a uma alta nos atendimentos na unidade, que saiu de 68% entre 2009 e 2011 para 83% no período 2018-2020. O Joinvasc ainda viabilizou uma redução de 37% nos casos de AVC.
Em 1995 eram 143,7 por 100 mil habitantes; 105 entre 2005 e 2006; e 90,9% entre 2012 e 2013. Outro dado que o programa apresenta é o aumento na proporção de pacientes com melhora após três meses de um AVC severo, na casa de 49% (38% no período 2010-2011; 44% entre 2014 e 2015; e 57% entre 2018 e 2019).
O vereador Cassiano Ucker (Cidadania), que é médico geriatra, comentou essa evolução durante o tempo partidário:
“Eu lembro que, quando eu comecei na faculdade, lá em 1998, a neurologia tinha um diagnóstico preciso através do exame físico. Nós sabíamos que ramo da artéria tava entupido pelo exame físico, mas não tínhamos quase nada a ser feito. Paciente evoluía por sequelas e por vezes a óbito. De lá para cá muito evoluiu; as pesquisas, os tratamentos… E aqui no município nós tivemos os dados apresentados, onde a gente consegue aumentar a sobrevida dos pacientes, onde a gente consegue diminuir o número de sequelas, onde a gente consegue reintegrar essas pessoas para uma vida normal e plena na nossa sociedade”.
Os vereadores Diego Machado (PSDB), Lucas Souza (PDT) e Henrique Deckmann (MDB) também dedicaram parte do tempo partidário para exaltar o programa. O presidente da Casa, vereador Maurício Peixer (PL), também usou parte do tempo do seu partido para falar do “orgulho” que ao programa dá à cidade.
No ano passado, o Joinvasc recebeu o prêmio Value-based Health Care (VBHC) Prize 2021, sendo eleito o melhor programa mundial de valor em saúde.
O AVC, atualmente, é a segunda principal causa de morte e a primeira em causar incapacidade, no Brasil.