A Câmara sediou nesta quinta-feira (17) um encontro para aproximar a rede de prevenção ao alcoolismo que existe em Joinville. Comunidades terapêuticas, conselhos municipais e instituições religiosas estavam entre os convidados do evento, que faz parte da primeira Semana de Prevenção ao Alcoolismo, criada por meio da Lei nº 8.973/2021, de autoria do vereador Luiz Carlos Sales (PTB).

Sales, que se autodenomina “um alcoólico em recuperação há mais de 30 anos”, presidiu a reunião. Os participantes puderam trocar experiências, ideias, contatos e fortalecer a rede.

A principal discussão foi sobre a necessidade de alterar a cultura da presença de bebidas alcoólicas em casas e domicílios. Uma das vias para estimular essa conscientização estaria nas escolas e o vereador destacou que ouviu do secretário de Educação a pretensão de que a prevenção ao alcoolismo seja trabalhada na grade curricular municipal.

A presidente da comunidade terapêutica Essência de Vida, Neiva Maria Bellani Westrupp, destacou que entende que o trabalho de prevenção nas escolas é importante, mas alerta que é preciso que os pais sejam conscientizados. “O que você quer beber?”, frisou, é uma das palavras mais comuns quando um pai recebe um amigo em casa, e isso promove na criança uma naturalização da presença do álcool.

Isso foi reforçado pelo coordenador da Pastoral da Sobriedade em Joinville, Orlando Vessani. “Como eu, pai, posso ser exemplo de vida, se lá na porta da geladeira temos cerveja ou vinho?”, pergunta. E Vessani defendeu a elaboração de políticas públicas que envolvam conselhos locais, de forma a estimular a prevenção ao alcoolismo. “Vai muitos anos para a gente combater essa cultura”, disse.

O coordenador da pastoral antialcoólica, José Eduardo de Oliveira, da pastoral antialcoólica, disse, ainda, que, mesmo que todas as instituições representadas na reunião unissem seus esforços num só local, “ainda assim seria complexo mexer com isso [alcoolismo]”, porque o agente que tem o poder da transformação é o dependente e nós temos então que trabalhar a prevenção para que ele nem pense em entrar, porque a droga, é importante dizer, ela traz um prazer; e nós devemos compensar esse prazer com políticas, com esporte, com educação e com família”.

A representante do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas (Comad), Vanessa Köhler, apresentou os trabalhos do órgão do Poder Executivo, que tem como auxiliar “a formulação da política municipal sobre álcool e drogas, orientar a normatização de atividades relacionadas ao assunto e estimular o desenvolvimento e o fortalecimento dos grupos de mútua ajuda”, entre outras funções.

A Semana de Prevenção ao Alcoolismo deve ser realizada na terceira semana de fevereiro.

Serviços de saúde

Além do conselho, que atua no campo do planejamento, a Prefeitura ainda possui, no campo do atendimento direto ao usuário de álcool e drogas o Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas (CAPS-AD). De acordo com a coordenadora do CAPS AD, Jeruslaine Espíndula, atualmente 436 pacientes de alcoolismo recebem atendimento na unidade, conforme nota da Prefeitura.

A unidade de Joinville fica na Rua Doutor Plácido Olímpio de Oliveira, 1489, no bairro Anita Garibaldi. O atendimento é de segunda a sexta, das 7h às 18h, exceto feriados e pontos facultativos. Também se pode contatar a unidade pelo telefone (47) 3423-3367 ou pelo e-mail: capsad@joinville.sc.gov.br

Mas o CAPS-AD não é a única forma de atendimento da Secretaria de Saúde. Quem precisar de ajudar também pode procurar apoio na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) de sua localidade. Situações mais graves podem receber atendimento das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e hospitais da cidade.

Números

Para iluminar a discussão, podemos observar alguns dados coletados pela Organização Mundial da Saúde:

Ocorrem 3 milhões de mortes anualmente como resultado do uso nocivo de álcool. Isso representa 5,3% de todas as mortes.

O uso nocivo de álcool é causa de mais de 200 doenças. Um montante de 5,1% das doenças são atribuíveis ao álcool.

Na faixa etária de 20 a 39 anos aproximadamente 13,5% do total de mortes são atribuíveis ao álcool.

Conforme levantamentos de 2018 publicados pela OMS, cerca de 21,4% dos brasileiros são abstêmios para a vida toda, isto é, não usam bebida alcoólica em nenhuma situação. Entre mulheres, esse percentual ultrapassa a casa dos 30%. Entre homens, chega a 11,4%.

Por outro lado, pessoas que não consomem álcool há 12 meses, em levantamento realizado no ano passado, chegam a 59,7%, conforme dados da OMS. Mais uma vez, os homens bebem mais que as mulheres. Deixaram a bebida no período um total de 46% dos homens, enquanto as mulheres que não usam álcool há 12 meses passaram de 72%.

Entre jovens, mais de um quarto da população entre 15 e 19 anos consome álcool, conforme dados de 2018. Entre os garotos, o percentual chega a 37,4%, enquanto entre as garotas, 15,8%.