Este artigo foi escrito por Patrik Roger Pinheiro, historiador (Registro Profissional 181/SC), servidor público municipal e mantenedor do projeto Memória CVJ, que pode ser acessado em memoria.camara.joinville.br.
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Em 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Luís foi deposto pelo movimento hoje conhecido como “Revolução de 1930”, a mesma que alçou Getúlio Vargas ao poder. Entre os avanços e retrocessos de um governo autoritário, a Era Vargas instituiu o voto feminino no Brasil.
O Jornal “A Notícia”, já em 1931, começou a anunciar planos do governo federal de rever a lei eleitoral então vigente, mencionando a intenção de fazer vigorar a novidade. O mesmo jornal trouxe de quando em quando menções positivas sobre o tema que saiam na mídia nacional.
Porém, um comentário local, sem assinatura do autor, mostrou desagrado ao sufrágio feminino ao afirmar que numa terra onde o “maior mal é a falta de cultura e educação política dos seus homens, não é de se presumir que as mulheres possam melhorar qualquer cousa.” Ele também disse que o voto feminino não traria nenhuma vantagem ao país, somente um aumento da massa eleitoral.
Durante o período de alistamento eleitoral não se deu mais atenção à novidade. O Jornal de Joinville, ao comentar o encerramento do período de alistamento, apenas mencionou o número de eleitores, 1.261, sem discriminar o sexo.
Numa posterior descrição das eleições gerais de maio de 1933 em Joinville, a primeira a contar com as eleitoras, o mesmo jornal mencionou que votaram 40 eleitores por hora e houve ausência de conversas políticas nos recintos, mas nada mencionou sobre a presença das eleitoras.
Não temos no arquivo histórico ou nos jornais um registro de quantas mulheres se alistaram. Numa cidade de 40 mil habitantes, os baixos números de eleitores (1.261) dão indícios de que as mulheres de modo geral não estavam habituadas ou interessadas em sufragar. Inclusive o Art 121 do Decreto nº 21.076/1932 lhes facultava tal direito, diferente dos homens, que eram obrigados a votar.
Art. 121. Os homens maiores de sessenta anos e as mulheres em qualquer idade podem isentar-se de qualquer obrigação ou serviço de natureza eleitoral.
Ainda assim, o Partido Republicano Catharinense levou em conta as mulheres, quando publicou em jornal um apelo dirigido às senhoras eleitoras.
A primeira candidata à CVJ foi Paula Helena Clara Polzin Schroeder, candidata pelo PSP (Partido Social Progressista). Ela concorreu nas eleições de outubro de 1950, que daria vaga à Segunda Legislatura, recebendo 48 votos na ocasião. Para comparação, o vereador eleito menos votado recebeu 278 votos naquele pleito.
A primeira vereadora eleita foi Matilde Amin Ghanem, cuja biografia está no memória CVJ.