Vereadores da Comissão Especial da Busscar vão intermediar investimentos e apoio ao Plano de Recuperação Judicial da companhia nos principais bancos credores, nas próximas semanas. A medida, que evita o fechamento de empresas em dificuldade financeira, será apresentada até o dia 20.
Amanhã, será eleito o gestor do plano. Na manhã de hoje (4), a comissão se reuniu com funcionários e sindicalistas para reforçar apoio ao restabelecimento da Busscar e dos empregos. Trabalhadores temem que a escolha do gestor do plano de recuperação privilegie interesses dos empresários e credores. A Busscar pode gerar até 5 mil empregos diretos.
A comissão, presidida por Levi Rioschi, encontrará representantes do Santander, no dia 11, em São Paulo, e do BNDES, em 25 de junho, no Rio de Janeiro. Eles são os principais credores da Busscar, fabricantes de carrocerias de ônibus que sucumbiu a crises dentro e fora da organização. Os membros da comissão ainda encontram o desembargador Altamiro de Oliveira, em Florianópolis.
Segundo os trabalhadores, a empresa está “zerada” e precisa apenas de dinheiro para se recuperar, uma vez que tem apoio de clientes e fornecedores. É preciso contratar funcionários, de engenheiros a técnicos de informática. Seus bens, avaliados em mais de R$ 400 milhões, não custariam a metade, se fossem negociados hoje, disseram.
Eles apoiarão Paulo Zimath na eleição para gestor do plano de recuperação, amanhã, às 15h, no Centreventos. Embora sejam maioria de votantes, eles representam o menor valor devido pela companhia a credores. Esse montante é um dos critérios de peso dos votos. Enquanto trabalhadores representam R$ 113 milhões em débito da Busscar, outros credores, como bancos, têm R$ 305 milhões para receber.
Zimath é diretor geral da Tecnofibras, empresa do grupo que passou por processo semelhante, mas se reergueu. Outros três candidatos disputam a vaga de gestor do plano de recuperação que, depois de pronto, em pelo menos 30 dias, será votado em assembleia geral de credores.
BNDES
O vereador Adilson Mariano, relator da comissão, disse que vai cobrar do BNDES posicionamento favorável aos trabalhadores. Segundo ele, o banco público sabia que a fábrica estava “indo pro vinagre” e foi omisso, descumprindo sua “função social de garantir empregos”.
“Ele (o BNDES) é responsável pelo problema, até mais que os sócios”, falou Mariano. “Não entendo porque quem criou o problema vai ‘dar as cartas’ agora”, disse o vereador sobre o peso do banco no processo de recuperação da empresa.
A comissão, criada em 19 de maio, teve os trabalhos prorrogados por 30 dias. Integram o grupo os vereadores Cláudio Aragão (secretário), Fábio Dalonso e James Schroeder.
Entenda
O processo da Busscar remonta a 2002, quando houve uma crise interna. Após recuperação, a queda na economia global de 2008, causada pelo sistema financeiro norte-americano, impactou o preço de muitas das matérias-primas que a Busscar utilizava. A partir de então, as dificuldades se acentuaram até 2012 quando, após meses sem pagamento aos funcionários, greves e discussões, foram demitidos 400 trabalhadores e declarada a falência.
O TJSC anulou a falência, após ação do Ministério Público que entendia que, embora houvesse possibilidade de recuperação da companhia, credores pressionaram para o fim da empresa.
A Busscar já foi considerada a 2ª maior fabricante de carrocerias do país, chegando a produzir mais de 5 mil ônibus por ano e a ter mais de 4 mil funcionários.
Outras comissões
Esta não é a primeira comissão da Câmara a tratar do assunto. Em 2010, quando funcionários da empresa estavam sem receber há meses, reuniu-se uma comissão. Na ocasião, os vereadores conseguiram que os operários não ficassem com nomes pendurados no SPC pela falta de pagamento. Outra comissão especial, reunida em 2003, participou do acordo que conseguiu R$ 45 milhões do BNDES para a recuperação a empresa.