“Eles realmente têm um medo”. A frase é do assistente social Cleiton José Barbosa, que atua no atendimento do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop). A unidade, que é um espaço de acolhimento, viu uma queda no número de atendimentos no período da pandemia do novo coronavírus. Se antes da pandemia havia entre 80 e 90 atendimentos diários, a nova realidade trouxe uma queda em que a média diária chega a 25.

Os vereadores da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos ouviram o assistente social na tarde desta quarta-feira (17). Ele falou pela Secretaria de Assistência Social (SAS). Também foram ouvidos representantes da Secretaria da Saúde para saber como está sendo realizado o atendimento do município à população em situação de rua durante a pandemia.

Até fevereiro, a SAS reconhecia uma população de rua estável de aproximadamente 380 pessoas. Esses números se referem às pessoas que são encontradas continuamente aqui em Joinville e que são conhecidas pela SAS. Além desses, Cleiton citou a existência de um grupo que varia entre 100 e 150 pessoas que são os “trecheiros”, que podem ir de caminhantes a artistas de rua que eventualmente podem dormir em locais abandonados. As pessoas desse grupo vivem migrando e essa diferença é considerada pela secretaria.

Porém, as abordagens mais recentes, durante a pandemia, localizaram em toda a cidade 183 pessoas em situação de rua. Por outro lado, há pessoas em situação de rua que passaram a vir para Joinville porque não possuem atendimento em outros municípios. Há pelo menos 30 casos como esse.

Segundo Cleiton, a diminuição pode ser explicada por alguns fatores. Um deles é a dificuldade do acesso a ônibus para chegar às unidades de atendimento. Entre março e o início de junho o transporte coletivo não operou na cidade. O auxílio emergencial, que é assegurado também à população de rua que não receba outros benefícios (à exceção do Bolsa Família) permitiu que alguns desses cidadãos tenham conseguido alugar quartos e imóveis simples. Outra vertente da população em situação de rua migrou para buscar apoio em comunidades terapêuticas, o que pode estar relacionado à intensificação do frio.

Entre as melhorias para o atendimento dessa população, Cleiton mencionou que, desde o final do ano passado, a equipe para abordagem da população em situação de rua subiu de duas para cinco pessoas. Além disso, essa equipe conta com carro em todos os dias. O assistente social também mencionou a articulação que há entre as secretarias de Assistência Social e de Saúde, bem como com órgãos de segurança pública e faculdades e universidades.

Covid-19 e população de rua

Ainda não há registros de Covid-19 entre a população em situação de rua em Joinville, conforme a representação da Secretaria da Saúde. Para atender essa população, a secretaria têm o programa Consultório na Rua (criado pelo Ministério da Saúde e iniciado na cidade em 2014). Não houve menção à quantidade de testes aplicados, mas eles têm sido realizados.

Histórico

O último debate da CVJ sobre a população em situação de rua ocorreu em novembro do ano passado, quando moradores do bairro Anita Garibaldi reclamaram em audiência pública da presença de pessoas em situação de rua em acampamento nas imediações do Cemitério Municipal e da unidade do Centro Pop.

Em maio do mesmo ano houve um grande debate entre várias comissões para pensar a questão. A maior visibilidade, ligada ao mesmo acampamento, motivou a reunião. Na ocasião, a estimativa da SAS era de que houvesse 800 pessoas em situação de rua no município. O Centro Pop atendia então, entre 350 e 360 pessoas.

Em 2015, representantes da Secretaria de Assistência Social afirmaram na CVJ que a unidade do Centro Pop tinha cadastradas 248 pessoas em situação de rua. Em outubro de 2017 o número de atendidos pela unidade foi de 150. Em abril de 2018 foram atendidas 512 pessoas.

Povo da rua na CVJ

Essa audiência de 2019 foi um dos momentos em que a população de rua esteve presente no Plenário. Pelo menos cinco atendidos pelo Centro Pop estiveram na Casa. Outro momento foi em novembro de 2015, quando representantes do Movimento Nacional da População de Rua expressaram algumas das reivindicações principais: a criação de albergues e o retorno do atendimento do restaurante popular na região central. Na época a unidade do Bucarein estava fechada para reforma.

As duas unidades de restaurantes populares Joinville, no Bucarein e no Adhemar Garcia estão atendendo por meio da entrega de marmitas. Cadastrados no Centro Pop são isentos. A cidade conta com uma casa de passagem com 15 vagas desde janeiro, quando a Prefeitura estabeleceu convênio com a Casa de Passagem Vó Joaquina, no Ulysses Guimarães.

Deixe um comentário