O trevo que une o eixo de acesso sul à BR-101 pode parecer só mais um elevado àqueles que eventualmente transitam na região, mas há uma situação bastante peculiar ali. Moradores, trabalhadores e comerciantes da estrada Lagoa Grande só possuem uma conexão com Joinville. E ela se dá por uma pequena entrada que começa no meio de uma das alças do trevo.
Alça, é importante observar, é o nome técnico dado à pista externa de um trevo. Mais especificamente, é a via por meio da qual o condutor pode passar para uma rodovia diferente. No caso desse viaduto que une o eixo de acesso sul à rede rodoviária federal, o motorista sairia da BR-101 para entrar no prolongamento projetado da avenida Plácido Hugo de Oliveira. Projetado, é preciso dizer, porque ele ainda não foi realizado.
O local será visitado pelos vereadores da Comissão de Urbanismo nesta segunda (23 de outubro), pela manhã, para encontrar meios de resolver a situação para os moradores. A sugestão, feita pelo vereador Richard Harrison (PMDB) em reunião da comissão nesta terça (17), veio depois da apresentação de três possíveis soluções pela equipe de engenheiros enviada à reunião pela Autopista Litoral Sul (ALS).
Engenheiro civil da ALS, Marcelo Possamai explicou aos membros da Comissão de Urbanismo que a situação atual é irregular, conforme instruções do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), porque a região acaba propensa a acidentes. Um veículo entrando na estrada Lagoa Grande pode estar em uma velocidade mais baixa que outro que esteja vindo da BR-101.
Além disso, os moradores da região precisam fazer um trajeto longo para voltar para casa (ponto C). Supondo que um deles apenas vá até a UBSF Profipo (ponto B), a mais próxima, o morador, caso esteja de carro, precisará chegar até a rua Porto Rico, nos limites dos bairros Floresta e Santa Catarina, para voltar para a BR-101 e, a partir daí, chegar em casa. O trajeto é de 12,9 km, conforme projeção do Google Maps. A extensão é equivalente a três vezes o circuito do autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Ao apresentar o problema, Harrison mencionou que a grande distância também pode fazer com que alguns moradores se arrisquem de fazer o trajeto da alça pela contramão.
A região tem aproximadamente 50 construções, entre casas e galpões e possui cerca de 30 famílias, conforme os moradores da região Altair Medeiros e Marcos Boettcher.
Possamai disse na reunião que havia três soluções possíveis para regularizar a situação. Duas delas seriam soluções provisórias.
A primeira delas (opção 1, na ilustração), que chegou perto de ser concretizada em acordo entre Prefeitura, ALS e moradores, seria resolvida com a criação de um pequeno trecho paralelo à alça, tendo alargamento da entrada da estrada.
A obra seria feita pela Prefeitura e a ALS doaria o material necessário para a pavimentação da pista provisória. Porém, a situação não foi concretizada porque a Prefeitura recebeu orientação negativa ao consultar a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre a intervenção.
A segunda solução (opção 2) seria mais simples, ainda que seja a mais burocrática. Consistiria em fechar a alça do trevo, fazendo com que ela seja apenas um sistema local, isto é, sendo usada pelos moradores. A solução resolveria o problema para veículos de pequeno porte, mas não para as carretas que se deslocam até a região, como observado por Altair e Marcos. Para a equipe da ALS na reunião, se 80% do tráfego estivesse atendido, a solução provisória já seria satisfatória. Ocorre que a ANTT poderia demorar muito a autorizar o fechamento.
Porém, as duas soluções acima seriam provisórias. Na avaliação de Possamai, a solução ideal (opção 3), que eliminaria todas as irregularidades, seria a ligação da estrada ao atual trecho final do eixo de acesso sul. Mas essa saída só seria possível por meio de desapropriação de um terreno que separa a estrada da rodovia, algo ainda não efetivado.
Neste ano, a Prefeitura já teve um total de R$ 793 mil pagos em desapropriações desde o começo do ano até agora. Este dinheiro foi usado para a aquisição de um total de 5,8 mil m² em diferentes pontos da cidade para alargamento e criação de ruas. O valor ainda deve alcançar R$ 1,1 milhão, conforme o valor empenhado até o momento.
A maior parte dessas desapropriações tem como objetivo o alargamento da avenida Santos Dumont. Outras o alargamento da rua Florianópolis. Uma delas se destina à aquisição de um terreno na região do eixo sul, também para arruamento, mas não é o que seria necessário para a terceira opção sugerida por Possamai.
A situação da comunidade da Lagoa Grande não é a única do tipo entre as mais de 6 mil entradas do trecho da rodovia sob responsabilidade da Autopista Litoral Sul. Também em Joinville, a entrada para o Centro de Convenções da Expoville passa por problema similar.
Zoneamento
A estrada margeia, em parte, o terreno da Universidade Federal de Santa Catarina, na região da Curva do Arroz. O zoneamento da cidade define o local como integrante da área de expansão urbana sul, de 26,4 km².
Isso significa que a área pode passar a ser integrante da área urbana desde que um projeto de lei que altere o zoneamento (definido pela Lei de Ordenamento Territorial, a LOT) seja apresentado, apreciado e aprovado pela CVJ.
Durante a tramitação da LOT na CVJ, a pretensão inicial da Prefeitura era que a região como um todo fosse dividida em dois tipos majoritários de uso, sendo um o educacional, que corresponderia ao terreno da UFSC; e o outro o setor industrial misto, abrangendo a área restante, que admite uso industrial e residencial na mesma área. Em Joinville, esse modelo industrial misto só é previsto no zoneamento para a região do bairro Jardim Sofia.
Texto: Jornalismo CVJ, por Sidney Azevedo / Foto: Sabrina Seibel