A Comissão Municipal da Verdade (CMV) realizou na noite desta segunda, no Plenarinho da Câmara, a segunda audiência pública, da série de cinco encontros. O objetivo das audiências é colher depoimentos da época da ditadura militar, especialmente das ações da Operação Barriga Verde, executada em Santa Catarina em 1975. Três depoimentos de vítimas e de familiares de vítimas foram ouvidos nesta segunda audiência.
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– A Comissão tem por objetivo desvendar os crimes da ditadura militar e expor as atrocidades cometidas em nome da pátria, por agentes do estado pagos inclusive pela população para defendê-la e representá-la e não para violentá-la.- Com esta frase, o coordenador da Comissão Municipal da Verdade iniciou os trabalhos da segunda audiência pública da comissão. No encontro foram ouvidos: Linete Oliveira Borges, Adilson Lopes da Silva e Glória Rocha.
Depoimentos
O depoimento de Linete Oliveira Borges trouxe informações sobre o ex-marido Irineu Ceschin, já falecido há quinze anos e que durante a ditadura foi preso pelos militares. Conforme Linete, Irineu foi torturado em Curitiba e posteriormente preso por um ano e três meses em Florianópolis.
Emocionada, Linete também declarou que sofreu tortura psicológica de policiais federais quando viajou para visitar o marido na capital do estado. Ela detalhou que o marido carregou sequelas pelas torturas por choque elétrico, pau de arara e empalamento.
Adilson Lopes da Silva compareceu à audiência para relatar informações sobre o pai, Abelardo Silva. Segundo Adilson, o pai era comunista e ficou preso por um mês na Penitenciária de Florianópolis em 1964. Por ser conhecido como um “filho de comunista”, Adilson também sofreu consequências e perdeu o emprego que ocupava, além de encontrar dificuldades para conseguir um novo trabalho durante a ditadura militar.
Adilson relatou que mesmo antes do golpe militar, a casa de Abelardo, que se localizava entre os bairros Itaum e Floresta, recebia visitas dos militares que vasculhavam a residências atrás de livros comunistas.
No último depoimento da audiência, Glória Rocha relatou que o marido Osni foi preso e levado para Curitiba, supostamente por fazer trabalhos sindicais, seis dias após o casamento deles. Segundo ela, Osni foi algemado, encapuzado e levado por policiais federais enquanto trabalhava, mas ela ficou sabendo o que se passou com Osni dias após o sumiço dele.
Glória confidenciou os relatos de Osni sobre as tortura na prisão: “Ele dizia que sofreu tortura por pau de arara e que quando dormia era acordado com socos no estômago”, disse.
A sistemática das audiências segue o modelo das realizadas pela Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV-SC) e pela Comissão Nacional da Verdade: os depoentes são convidados a falar o que viveram e sabem sobre as ações repressivas da ditadura e depois respondem às perguntas dos membros da comissão, em geral esclarecimentos sobre nomes, fatos e lugares.
A CMV deverá encaminhar seu relatório final à CEV-SC, em novembro. As demais audiências serão realizadas nos dias 15, 22 e 29 de setembro, às 19h, na Câmara de Vereadores. As reuniões podem ser acompanhadas no site da Câmara, na guia TV e Rádio.
A comissão de Joinville é a única em âmbito municipal no estado. Foi idealizada por entidades de defesa dos direitos humanos, como o CDH e o Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos de Joinville (IDDH) e formalizada com o apoio dos vereadores da Comissão de Participação Popular e Cidadania.
A CMV é composta também por membros do Poder Executivo, do Legislativo, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de instituições de ensino superior do município.
Como Colaborar?
A OAB recebe informações e indicações de pessoas afetadas pela operação neste site.
Aqueles que quiserem colaborar com a CMV, podem entrar em contato com os membros pelos e-mails:
Representação da OAB: comissaodaverdade@oabjoinville.org.br
Luiz Henrique Lima, coordenador da CMV: luizhlima@hotmail.com
Rossana Cunha, secretária: rossana.cunha@gmail.com
Maikon Jean Duarte, relator: maikon.jean.duarte@gmail.com
Fotos de Sabrina Seibel