Para estudantes de ensino médio que tiveram de mudar para uma escola mais longe, o nome é fechamento. Para a Secretaria Estadual de Educação (SED), é reordenamento. A divergência resultou em um debate nesta terça-feira, dia 19, na audiência pública das comissões de Educação e de Cidadania da Câmara sobre o remanejamento de estudantes e professores na rede estadual.

As mudanças seguem um planejamento da SED aplicado a mais de cem escolas no Estado, desde 2016, de transferir estudantes de escolas com baixo número de alunos para outras, que já resultou na diminuição de dívidas de custeio da secretaria de R$ 110 milhões, em 2015, para R$ 60 milhões, no ano passado, segundo a assessoria da Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Joinville. A previsão é zerar a dívida neste ano.

Para a supervisora de gestão escolar da Gerência Regional de Educação (Gered) em Joinville, Rosemari Conti Gonçalves, não é possível falar em fechamento, porque as vagas são recriadas em outras escolas já existentes ou novas.

Estudantes, líderes estudantis e vereadores, no entanto, criticaram a transferência compulsória por acreditarem que ela desmotiva estudantes, colabora para a evasão escolar, e ainda pela falta de diálogo com a população.

“O governo gosta desse nome ‘reordenamento’, mas, na verdade, é sucateamento, e o peso é jogado nas costas dos estudantes e dos professores”, disse a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores de Ensino (Sinte) Thais Aparecida Domenes Tolentino.

“O governo não está conversando com a comunidade”, diz o ex-aluno de ensino médio João Antonio Gama Gonçalves, do Movimento Liberdade e Luta. O grupo percorre escolas de Joinville e região para ouvir queixas de estudantes que precisaram trocar as salas de aula na vizinhança por outra distante até uma hora de ônibus, segundo Gonçalves.

O exemplo é de um aluno transferido da escola Ruben Roberto Schmidlin, no Morro do Meio, para a Bailarina Liselott Trinks, no Vila Nova. “Alguns alunos não têm como ir”, diz o líder estudantil.

A distância desmotiva os estudantes, que ficam mais propensos a abandonar a escola, acredita Gonçalves. Os alunos são transportados gratuitamente por três ônibus da SED e ainda podem pedir as passagens à Gered, contrapõe a gerência.

“O Estado tem por costume arbitrar decisões dentro da municipalidade sem nem sequer consultá-la”, falou o presidente provisório da Comissão de Cidadania, Richard Harrison (PMDB).

Nas contas do gabinete dele, sete escolas foram fechadas nos últimos anos. “Não vamos mais permitir o fechamento de escolas”, falou o parlamentar, que prometeu ocupar escolas, se os estudantes o fizerem.

Harrison criticou, ainda, a ausência dos secretários estaduais convidados para a reunião, assim como tem feito em reuniões sobre segurança pública.

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Eladir Skibinski

Professores da Escola Eladir Skibinski, no Aventureiro, lamentaram o anúncio de fechamento, principalmente por se tratar de uma área de vulnerabilidade social, onde estudantes também trabalham.

Beatriz é estagiária de uma clínica dentária por seis horas e estuda à noite na Eladir Skibinski. Sua mãe já desistiu de estudar quando a mesma escola foi fechada anteriormente e ela não pôde ir até à nova escola. “Eu sou uma estudante, eu não deveria estar aqui pedindo para que minha escola não seja fechada”, disse ao público.

Segundo professores do Eladir, a Gered impediu que novas matrículas fossem feitas, no ano passado, reduzindo o número de alunos para 170 (o número oficial é 187, com expectativa de redução).

Os alunos, que hoje ocupam salas na Escola Municipal Wittich Freitag, serão transferidos para a Escola de Educação Básica Maria Amim Ghanem, no mesmo bairro.

O que diz a Gered

Supervisora de gestão escolar da Gerência Regional de Educação (Gered) em Joinville, Rosemari Conti Gonçalves defende o reordenamento proposto pela comissão do Plano de Ofertas Educacionais (POE) da SED, desde 2016, como uma resposta às atuais demandas da educação.

“A rede municipal está se organizando, está ganhando corpo pra assumir a sua competência, que é o ensino fundamental; nós, da rede estadual, temos que focar no ensino médio”, comparou a supervisora.

Segundo ela, as mudanças são feitas “com base em dados concretos, e não aleatoriamente”. A cidade segue com 39 escolas de ensino médio, disse, como no ano passado.

Sobre as críticas, Rosemari acredita que os insatisfeitos não cheguem a 5%, entre professores e alunos, e defende a liberdade deles de se manifestar.

“Tudo o que é novidade, num primeiro momento, assusta, mas, nós da rede (estadual), não estamos fazendo nenhum reordenamento sem pensar no professor e na garantia da matrícula para o nosso aluno”.

Viabilidade

A ADR informa que, para uma escola ter viabilidade de funcionamento, cada período escolar precisa ter um mínimo de 120 alunos matriculados. Isso justifica os custos de manutenção da estrutura física e também são avaliados outros critérios técnicos como gastos em transporte escolar, organização das turmas e folha de pagamento.

Também segundo a agência, em 39 escolas da rede estadual na cidade foram contabilizadas 569 salas de aula. Desse total, 34 estão vazias durante a manhã, 155 sem uso durante à tarde, e 412 ociosas no período da noite. O levantamento identificou 51.210 vagas para a rede estadual de ensino em Joinville. Desse total, 38.400 estão preenchidas com matrículas do ensino fundamental ao médio.

Por Jornalismo CVJ. Texto: Carlos Henrique Braga. Edição: Felipe Faria. Fotos: Sabrina Seibel.

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