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“Graças a Deus já saí!”, exclamou uma paciente que recebeu alta da Unidade de Pronto-Atendimento Sul, enquanto buscava sua bicicleta na parte externa do prédio público. Na mão, levava uma receita e blisters de remédios, que deixou então na cestinha da bike antes de ir embora da unidade de saúde.
Aquela exclamação, entretanto, evidencia um dos principais problemas que os vereadores da Comissão Especial de Saúde encontraram na primeira vistoria realizada: o tempo de permanência. Atualmente, ele está na casa das seis horas, conforme a enfermeira Valdinete dos Santos Felix relatou ao colegiado criado pela CVJ para avaliar a situação da saúde em Joinville.
Nesta segunda-feira (24), os vereadores Claudio Aragão (MDB, presidente), Brandel Junior (Podemos, secretário), Cassiano Ucker (União Brasil, relator) e Neto Petters (Novo, membro), e suas equipes conferiram a situação da unidade de saúde, a principal da zona Sul, sendo referência para uma população de mais de 217 mil pessoas, conforme estimativas do IBGE de 2021.
O grupo precisou caminhar com cuidado entre os corredores do PA Sul. Não havia cadeiras livres na unidade durante a visita. Na breve ida à sala de medicação, onde pacientes estavam sentados recebendo soro ou remédios por via venosa, todas as cadeiras estavam ocupadas.
Apenas para o procedimento de triagem, que é, basicamente, uma avaliação inicial quanto à gravidade da situação do paciente, há alguns que esperam entre uma hora e uma hora e meia, conforme a coordenadora da unidade, a enfermeira Camila Alves Leandro, embora Valdinete tenha relatado casos de duas horas de espera entre o cadastro da pessoa no balcão e a triagem.
Pacientes crônicos
Parte da demora, conforme a coordenadora, tem explicação na duplicação do número de atendimentos a partir de meados de março. Em fins de semana, quando a média era de cerca de 400 atendimentos, atualmente chega a 700. Em segundas e terças-feiras, em especial, esse número ultrapassa mil. Conforme Camila, para comparação, a média de atendimentos na UPA Leste gira em torno de 850 atendimentos, e a da UPA Norte passa um pouco de 500.
O aumento se explica, conforme ela, pela alta demanda de pacientes crônicos (pessoas com doenças como hipertensão, diabetes e colesterol elevado).
Em entrevista que fizemos com o vereador Cassiano Ucker, relator da comissão, e médico da rede pública de Joinville, o parlamentar detalhou que esse aumento era algo esperado como um efeito tardio da pandemia, quando os pacientes deixaram de ter um contato mais cotidiano com as unidades básicas de saúde.
A própria atenção básica como um todo, observou Ucker, acabou tendo a estrutura fragilizada no período e as visitas dos agentes comunitários de saúde nas casas, e até mesmo as de médicos, deixou de ser uma constante.
Vai caber a Ucker a responsabilidade de elaborar o relatório final, com sugestões de como tornar melhor o atendimento a saúde em Joinville.
A Comissão Especial de Saúde ainda deve fazer outras visitas a hospitais e postinhos durante esta semana e as próximas, entretanto, sem data marcada para viabilizar uma situação de surpresa nas unidades.
Remanejamento
Durante a vistoria, o vereador Aragão, presidente da comissão, chegou a sugerir o remanejamento de profissionais de outras unidades para recompor a equipe do UPA Sul.
Na sessão de observação, onde houve a primeira conversa com os enfermeiros, 19 pacientes estavam nos leitos. Destes, sete aguardavam transferência para hospitais. “Era para ser zero”, lamentou Camila aos vereadores.
Enquanto os vereadores ouviam a coordenadora do PA Sul explicar os problemas do espaço físico da unidade, o filho de uma paciente da emergência pediu a uma das enfermeiras para saber quando a mãe seria encaminhada para outra unidade.
Ele ouviu a explicação de que isso dependeria do sistema de regulação do governo estadual, mas que a tendência era que a paciente fosse encaminhada para o Hospital Regional, que é referência em cardiologia.
Ampliação
A ampliação da unidade foi um dos tópicos abordados. O vereador Neto Petters questionou a possibilidade de se utilizar o espaço do estacionamento, abaixo da estrutura da unidade, para uma ampliação.
Entretanto, a coordenadora observou que estacionamento já é um problema para os pacientes na situação atual da unidade, e que uma extensão na atual área administrativa poderia ser mais proveitosa, com a abertura de consultórios, e a liberação de espaços na estrutura já existente para melhor acomodação dos pacientes.