Comparação com salários pagos por outras empresas, meritocracia e retenção de talentos foram as razões que embasaram o conselho administrativo da Companhia Água de Joinville (CAJ) a aprovar o pagamento de gratificação aos diretores da companhia, vinculada ao Programa de Participação de Resultados (PPR). As justificativas foram apresentadas pelo presidente do conselho, Marcelo Hack, durante a sessão ordinária desta segunda-feira (6).

Além de Hack, o diretor-presidente da CAJ, Giancarlo Schneider, foi ouvido pelos vereadores no plenário da CVJ. Os representantes da CAJ participaram do encontro a partir de um requerimento aprovado pelos vereadores na semana passada. Entre os motivos citados para a aprovação do requerimento, os parlamentares citaram que a sociedade estaria revoltada com a decisão da empresa, que poderia pagar, com as gratificações, até R$ 170 mil mensais para ocupantes de postos de comando da empresa.

Na quinta-feira da semana passada (2), o conselho de administração da CAJ decidiu recuar na criação da gratificação.

Explicações

Diretor-presidente da Águas, Giancarlo Schneider, apresentou as ações da empresa / Foto: Mauro Arthur Schlieck
Diretor-presidente da Águas, Giancarlo Schneider, apresentou as ações da empresa / Foto: Mauro Arthur Schlieck

A partir da apresentação dos vereadores sobre as razões que motivaram o convite aos representantes da Águas, Giancarlo teve tempo livre para expor seus argumentos. Entretanto, o diretor-presidente dedicou sua fala para explicar as melhorias em processos adotadas pela CAJ.

Coube a Marcelo Hack explicar a aprovação do pagamento de gratificações. O presidente do conselho contou que uma pesquisa de mercado teria demonstrado que empresas do mesmo setor da CAJ pagariam salários melhores que a empresa pública joinvilense. Para não aumentar salários, segundo Hack, o conselho então entendeu que a remuneração variável seria a forma mais sensata de fazer a retenção dos talentos da empresa.

Hack ainda justificou que a empresa determinou metas agressivas que elevariam a empresa a níveis internacionais e que, conforme as metas, se o cliente da CAJ não estivesse satisfeito com a empresa, presidente, diretores e funcionários não teriam direito às bonificações.

Já na parte final da sessão, a partir de um questionamento do vereador Sidney Sabel (União), Hack afirmou que o prefeito Adriano Silva (Novo) aprovou a remuneração global prevista pelo conselho, ainda que não a divisão interna dos valores, que caberia à empresa.

Desistência

Marcelo Hack explicou que o conselho voltou atrás da ideia de pagamentos das bonificações porque ouviu a sociedade através dos posicionamentos dos vereadores. Hack acrescentou que “a empresa talvez ainda não esteja preparada para esse tipo de remuneração”.

Visões

Vereadores acompanham apresentação da Águas / Foto: Mauro Arthur Schlieck
Vereadores acompanham apresentação da Águas / Foto: Mauro Arthur Schlieck

Durante a discussão na sessão, houve vários temas abordados, entre eles a expansão da rede de esgoto e os possíveis impactos financeiros para as famílias joinvilenses que viriam das ligações; os buracos no asfalto das ruas; e outras situações. Porém, alguns vereadores buscaram retomar o tema da gratificação e destacaram que faltou uma consulta à Câmara sobre a decisão.

Diego Machado (PSDB), por exemplo, observou que os dados de planejamento apresentados por Schneider já tinham sido apresentados em outras reuniões da Câmara, quando a diretoria da Águas esteve presente. Para o parlamentar, a CVJ precisa ser consultada antes de decisões em que dinheiro público esteja envolvido. Nesse sentido, o vereador ainda recordou que a Casa aprovou um empréstimo de 45 milhões de euros da empresa pública com a Agência Francesa de Desenvolvimento.

Outra abordagem dos vereadores foi questionar a diferença de valor do PPR para a diretoria em relação aos demais trabalhadores da empresa. Brandel Junior (Podemos) frisou que não é contra o PPR da diretoria para baixo, mas que é contra a diferença para os cargos mais elevados. “Gerência e produção tem que ser valorizado”, afirmou, enquanto dizia para os diretores: “Vocês têm que entender que estão numa missão”.

Por outro lado, o vereador Cassiano Ucker (União Brasil) disse acreditar na meritocracia, e disse não ser contra o PPR, mas afirmou que seria preciso revisar os valores propostos, em especial quando a Câmara discute possibilidades de expansão da área urbana. Isso requereria manter esses valores para futuros investimentos da companhia, segundo o vereador.

Presidente da Casa, o vereador Maurício Peixer (PL) reforçou que acompanhou a transformação dos serviços de água e esgoto em Joinville quando a CAJ foi criada, assumindo os trabalhos que eram tocados até então pela Casan. Peixer ainda observou que “serviço público é diferente”, ao comentar a alta taxa de trocas no comando da empresa, citada por Hack. Peixer destacou que presidência e diretoria de empresa pública são funções de confiança e que podem ser trocadas, sendo espaços de “contribuição com a sociedade”.

O vereador Neto Petters (Novo) disse entender que a Águas tem o objetivo de melhorar o serviço e que tem preocupação com a transparência. Esse foi o motivo para parabenizar a empresa por ouvir os funcionários e decidir pelo recuo no momento. Petters voltou ainda a frisar que a cúpula da empresa não recebeu os valores diferenciados do PPR.

* Com a colaboração de Sidney Azevedo