Em 1925, nascia Maria Ricardo da Costa, mulher negra, neta de escravizados e libertos, que em 2025 completou 100 anos de uma vida marcada pela liderança comunitária na zona sul de Joinville. Conhecida como Dona Fanga, a matriarca de oito filhos, 22 netos, 40 bisnetos e nove tataranetos recebeu uma moção de aplauso da Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ) a partir de proposição da vereadora Vanessa da Rosa (PT) aprovada nesta segunda-feira (21).

“Primeiro como trabalhadora rural e depois como diarista em Joinville, Dona Fanga representa a experiência de milhares de mulheres negras brasileiras. Esse trabalho que tantas vezes é invisibilizado sustenta lares, movimenta a economia e mantém vivas práticas de cuidado e resistência. A homenagem é uma celebração desta trajetória em especial e um reconhecimento de tantas outras mulheres negras que construíram este país. Um ato político de memória e reparação”, explicou Vanessa da Rosa.

A homenagem a Dona Fanga ocorre no contexto do Julho das Pretas, celebrado neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no dia 25. A data foi criada a partir do histórico encontro de mulheres negras realizado em 1992, na República Dominicana, e que visa dar visibilidade às lutas, resistências e contribuições das mulheres negras nos âmbitos político, social, econômico e cultural. No Brasil também é celebrado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído por meio da Lei nº 12.987/2014, em memória da líder quilombola que comandou o Quilombo do Quariterê, símbolo da luta contra a escravização e da resistência negra feminina.

Sobre Dona Fanga

Dona Fanga recebe moção | Foto: divulgação
Dona Fanga recebe moção | Foto: divulgação

Mesmo centenária, Dona Fanga é presença ativa e fundamental na vida comunitária e espiritual do bairro Floresta. Uma das fundadoras da Paróquia Cristo Ressuscitado, em 1974, atuou de forma decisiva para a construção de uma comunidade mais justa, acolhedora e solidária. A congregação ficou marcada na história de Joinville pelo trabalho social junto à comunidade inspirado na teologia da libertação. Também atuou em diferentes atividades da paróquia, como os círculos bíblicos da Diocese de Joinville e clubes de mães.

A homenageada nasceu no dia 26 de maio de 1925, em Salto do Guamiranga, em Araquari, e foi criada em Itapocu, região historicamente marcada como território remanescente quilombola, herdeira direta de uma ancestralidade de resistência, dignidade e sabedoria. Ainda na juventude veio para Joinville, onde construiu a maior parte da sua história, liderando a família e a comunidade. Por mais de 30 anos, organizou excursões religiosas para Aparecida do Norte e Iguape, sempre reunindo familiares e amigos. Também manteve forte participação na tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Itapocu, onde se preserva o Catumbi. Dona Fanga incentivou filhos e netos a manter viva essa manifestação cultural e espiritual, envolvendo toda a família na preservação da tradição.

“Quantas mulheres negras como Dona Fanga fizeram e fazem a diferença para o Brasil sem ter o devido reconhecimento. São mulheres que inspiram, mulheres negras que tiveram que enfrentar todos os tipos de dificuldade e se tornaram faróis para tantas outras. Foi a partir desses exemplos, desses caminhos abertos e iluminados, que podemos trilhar nossos caminhos”, afirmou a vereadora.

Texto encaminhado pela assessoria da vereadora Vanessa da Rosa.

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