Joinville foi citada no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), na seção sobre violações de direitos dos trabalhadores. O parágrafo que menciona a cidade cita a prisão de sindicalistas no estado e, em particular, a presença do governo militar em empresa da cidade. A informação utilizada pela CNV é oriunda do relatório final da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Right (CEV-SC) e foi prestada por ex-dirigentes de sindicatos da região em depoimento.

 

 

Conforme o texto do relatório final da CNV (página 72 do volume 2):

“Em Santa Catarina, muitos dirigentes dos sindicatos que sofreram intervenção e sindicalistas cassados foram presos. No estado catarinense ocorreu um caso extraordinário de intervenção direta do Exército no interior da empresa, quando esse acampou em uma sala especial dentro da Fundição Tupy, em Joinville, mediante acordo com a empresa, e ficou usando suas instalações por 20 anos. Segundo depoimentos de presos políticos de Joinville, a direção da empresa possuía uma clara postura de apoio à repressão política na região. Quem era demitido por participação política ou reivindicação salarial tinha a carteira de trabalho assinada com caneta vermelha e nunca mais conseguia emprego na cidade, pois esse era o código utilizado entre as empresas.”

Os relatos de prisões de pessoas ligadas ao movimento operário são corroborados pelos depoimentos que foram prestados às audiências públicas da Comissão Municipal da Verdade, todas ocorridas no Plenário da Câmara.

Confira como foram as audiências

1ª audiência: as depoentes foram Lúcia Schatzmann e Maria Zeferino Domingos. Lúcia é casada com Edgar Schatzmann, e contou como foi correr atrás de informações do marido na época. Maria Domingos é viúva de Waldemar Domingos, também preso e torturado na época. Ambos eram integrantes do movimento operário da cidade e foram presos nas ações da Operação Barriga Verde, realizada em 1975. A primeira audiência ouviu as duas como forma de homenagear o papel exercido pelas mulheres no período.

2ª audiência: os depoentes foram Linete Oliveira Borges, Adilson Lopes da Silva e Glória Rocha. Linete e Glória eram esposas de Irineu Ceschin e Osni Rocha, respectivamente. Os dois foram presos e torturados no período. Adilson é filho de Abelardo Silva, militante comunista que foi preso e torturado em 1964.

3ª audiência: os depoentes foram Carlos Adauto Vieira e Edegar Schatzmann. Vieira é advogado e atuou como defensor de sindicalistas e personagens do movimento operário na cidade. Foi o primeiro preso político de Joinville, tendo sido detido em 31 de março de 1964, conforme seu relato. Schatzmann foi preso duas vezes, uma em 1971 e outra em 1975, por conta da Operação Barriga Verde. Ele contou como foi estar preso e a situação de outros presos da época.

4ª audiência: os depoentes foram Edésio Ferreira Filho, João Fachini e Luiz Fachini. Edésio contou sobre as visitas que fez a seu pai, Edésio Ferreira, preso político na época. João Fachini era líder de comunidade católica do bairro Floresta, e relatou momentos de tensão vividos por conta da observação militar. Já o padre Luiz Fachini contou episódios em que sofreu ameaça de morte e do afastamento pelo qual passou quando foi estudar na Suíça, a pedido do bispo da época, Dom Gregório Warmeling, para não correr riscos.

5ª audiência: os depoentes foram Zilma Gonçalves Serpa e Afonso Carlos Fraiz. Zilma é esposa de Júlio Serpa, que foi militante do Partido Comunista Brasileiro. Seu marido foi preso em dezembro de 1975, pela Operação Barriga Verde. Fraiz foi o único ex-militar a falar na CMV. Ele atuou na prisão de Júlio Serpa e disse que as investigações não partiram do 62º Batalhão de Infantaria.

Realização da Comissão

A CMV foi viabilizada por intermediação da Comissão de Participação Popular e Cidadania da Câmara, a partir de debates realizados com entidades de defesa dos direitos humanos, instituições de ensino superior e órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil. No dia 9 de junho os vereadores da comissão e as entidades envolvidas na elaboração da comissão estiveram na prefeitura para apresentar a minuta de criação da comissão. Ficou a cargo do Gabinete do Prefeito (atual Secretaria de Governo) a coordenação da Comissão Municipal da Verdade.

Foto de Daniel Tonet

Deixe um comentário