Reunidas de forma conjunta, as comissões de Cidadania e de Educação receberam convidados de secretarias municipais e de uma associação de imigrantes em busca de avanços nas políticas para imigrantes em Joinville. Entre os avanços do encontro, realizado nesta terça-feira (03), os vereadores decidiram encaminhar uma moção para que a Prefeitura de Joinville providencie uma casa de acolhimento para imigrantes. Outra moção pedirá ao governo estadual a contratação de profissional para auxiliar o atendimento de gestantes na Maternidade Darcy Vargas.

A proponente da discussão, Ana Lucia Martins (PT), argumentou que nos últimos anos foram realizadas três audiências públicas sem avanços sobre a questão dos imigrantes. Sobre o centro de acolhimento, Ana Lucia pediu união de forças para que Joinville possa ter um centro de referência.

A importância do centro de acolhimento também foi defendida pelo representante da Associação de Imigrantes Haitianos de Joinville (AIHJ), Whistler Ermonfils, e pelos presidentes das comissões envolvidas. Para, Brandel Junior (Podemos), de Educação, o centro deveria ser instalado na área central da cidade e funcionar em uma parceria entre a Prefeitura de Joinville e representantes das associações de imigrantes. Pastor Ascendino Batista (PSD), de Cidadania, propôs as moções para apelar aos governos municipal e estadual por ações em prol dos imigrantes.

Whistler Ermonfils, que vive no Brasil há nove anos, externou o desejo de seguir estudando para se qualificar e relatou a dificuldade econômica dos imigrantes. “Eu queria viver nessa cidade com tranquilidade, não só trabalhar para sobreviver”, refletiu Whistler após relatar o cenário de imigrantes que gastam mais da metade dos salários somente com aluguel em Joinville.

O desejo de Whistler de continuar estudando na busca de um futuro melhor para si e para os filhos foi elogiado por Pastor Ascendino Batista e por Neto Petters (Novo).

Questionado por Neto sobre a qualidade dos atendimentos dos serviços de saúde no município, Whistler afirmou que o atendimento para o imigrante é o mesmo dado para outras pessoas. Entretanto, ele relatou o caso de uma imigrante gestante que teria perdido o bebê por dificuldade no entendimento das orientações de um médico da Maternidade Darcy Vargas.

O relato motivou os vereadores a decidir pelo encaminhamento de outra moção, desta vez para o governo estadual, responsável pela maternidade. O documento, que deverá ser assinado pelos membros das duas comissões, pedirá a contratação de profissionais para auxiliar mulheres imigrantes nos atendimentos.

Comunicação

Representantes das secretarias de Assistência Social, Educação e Saúde concordaram que a comunicação é o maior problema enfrentado na relação com os imigrantes. A informação foi confirmada também por um levantamento de dificuldades realizado pela Secretaria de Saúde.

Uma evidência do problema são ações do poder público na tradução de materiais para a língua crioula, um dos idiomas oficiais do Haiti. Conforme o representante da Saúde, Andrei Kolacek, uma cartilha da saúde da mulher foi traduzida para o idioma para facilitar o acesso de haitianas. A coordenadora de políticas para mulheres e direitos humanos Deise Gomes também destacou que, em 2020, a Secretaria de Assistência Social traduziu para o crioulo um material sobre os serviços ofertados pela pasta.

Na área de educação, o gerente Cleberson de Lima Mendes destacou as políticas inclusivas que foram implementadas em Joinville, como uma proposta de ensino da língua portuguesa para crianças e adolescentes estrangeiras. De acordo com Cleberson, Joinville tem 191 alunos de origem haitiana matriculados no ensino fundamental e 161 alunos de origem venezuelana na rede municipal.

Conforme dados da Polícia Federal apresentados por Deise Gomes, Joinville possui uma população de 4.550 imigrantes, a maioria haitianos e venezuelanos. Com esse número, Joinville é o segundo município de Santa Catarina com mais imigrantes, atrás apenas de Florianópolis.